on sexta-feira, 27 de março de 2009

Saudades...

Muitas crianças de hoje e assim será no futuro e cada vez mais, não sabem como a infância de antigamente era tão mais saudável e alegre de se brincar.

Lembro perfeitamente das tardes com minha avó na varanda da casa onde morávamos. Ela nos contava histórias do tempo de "trancoso", onde reinavam os temas "assombração, aparições", as quais eram presenciadas por ela e amigos nas idas e vindas das festas por onde morava e que nos deixava de cabelos em pé, a mim e à minha irmã.


Lembro ainda da minha avó soufejando canções, embolando os dedos, dos seus cabelos brancos.

Viamos, da nossa varanda, o farol do jacintinho. As cores eram mais brilhantes. Contávamos as voltas que as luzes davam e viamos o clarão vermelho e amarelo.


As tardes jogando futebol de botão e banco imobiliário eram as mais divertidas. Passava horas na casa do Eduardo, irmão do Rodrigo, onde seu pai com um bigode do tamanho do mundo nos amedrontava com sua cara de brabo. Mas era um cara legal.


Hélio também sempre estava por lá. Era o melhor no futebol. Jogávamos lá no condomínio do Eduardo. Ainda tinha o Dudu e o Netinho, irmãos da Fernanda. E ainda as gêmeas, as quais não recordo os nomes.


Tudo era tão diferente, muito diferente. As mangas, as goiabas, as cajás e cajus e ainda as canas de toda a vizinhança não paravam quietas, pois tinha sempre alguém por perto não deixando elas ficarem lá, naquele lugar monótono que onde estavam plantadas. Nossa barriga era um lugar muito mais interessante, hehehe.


"Barrinha", "dois contra dois", "rebatida", eram as modalidades do nosso conhecido futebol no campinho de barro.
A confecção das raias (pipas) e ratinhos era sempre uma atividade das mais prazeirosas.

O boi (bumbá) no tempo de carnaval; eu sempre fazia um tamanho miniatura e ia todas as vezes ao "comércio" com minha mãe, nas "Casas José Araújo", comprar um pedaço de pano de chita, dos mais enfeitados, para a confecção do boi, que consistia numa lata de óleo aberta, com dois pedaços de cabo de vassoura embaixo e pronto, estava lá o nosso boi.


E por falar em lata de óleo, lembro dos caminhões que também fazia utilizando esse material, quando não, várias latas de leite enfileiradas, amarradas umas as outras por pedaços de arame. Eu saía pela rua puxando e ia e vinha feliz da vida. Os feitos com garrafas de água sanitária também eram muito bons.


Mas hoje tudo mudou. As crianças nem fazem ideia de como tudo isso foi possível. Vivem trancafiadas em seus quartos, nas casas de jogos, mais conhecidas como lan houses; a cada dia mais escravas e dependentes de tudo quanto o mundo capitalista conseguiu incutir em nossas vidas, em nossas mentes, em nosso cotidiano.


Não queria que esse tempo fosse embora; mesmo sabendo que ele quase não mais existe. Ao menos não na realidade, em princípio, mas em nossas mentes tudo permanece. Tudo está vivo. Sempre esteve.


Quem sabe não haja uma revolução, uma retrorevolução, e tudo volte a ser como antes?


Simplesmente!